El Comercio De La República - Há dólares para a Argentina?

Lima -

Há dólares para a Argentina?




Em 48 horas, a Casa Rosada zerou temporariamente os impostos de exportação sobre grãos e derivados para “destravar” vendas e captar divisas; as declarações de exportação dispararam e atingiram a meta de US$ 7 bilhões em tempo recorde. No mesmo compasso, as reservas brutas do Banco Central da República Argentina (BCRA) deram um salto diário próximo de US$ 1,9 bilhão nesta sexta-feira, na esteira das compras oficiais no mercado de câmbio. O alívio é palpável — mas a pergunta permanece: acabou a escassez de dólares?

O que de fato mudou em 2025
Desde abril, o país desmantelou a maior parte do “cepo” cambial e substituiu o antigo regime por uma banda de flutuação do peso, dentro da qual o BCRA se compromete a intervir quando a taxa encosta nos limites. Essa virada só foi possível com a ancoragem de um programa de 48 meses com o FMI e desembolsos iniciais robustos. Em 31 de julho, o Conselho do Fundo aprovou a primeira revisão e liberou mais US$ 2 bilhões, mantendo como norte a reconstrução das reservas e uma regra fiscal crível.

Um alívio vindo do campo — mas com prazo
O corte emergencial dos tributos sobre exportações funcionou como um “sinal verde” ao agronegócio: tradings e indústrias correram para registrar vendas, e compradores internacionais aproveitaram o desconto. A Índia, maior importadora mundial de óleos vegetais, fechou em dois dias uma compra recorde de 300 mil toneladas de óleo de soja argentino, com embarques previstos entre outubro e março. O governo restabeleceu as alíquotas logo após o teto de vendas declaradas ser atingido, o que mostra o caráter transitório da medida: ela antecipa fluxo cambial, mas não altera de forma permanente a capacidade de geração de dólares do país.

Reservas e o “novo” câmbio: sinais mistos
A banda de flutuação deu previsibilidade, porém a demanda por moeda forte aumentou com o fim das travas. Em meados de setembro, o peso testou (e por instantes superou) o teto da banda, obrigando o BCRA a intervir — inclusive com a maior venda diária de dólares desde 2019. O episódio lembra que, embora as reservas brutas tenham voltado à casa de US$ 40 bilhões, a métrica relevante é a das reservas líquidas, que seguem comprimidas e, segundo o próprio programa com o FMI, ainda caminham para terreno menos negativo ao longo do ano, mas não plenamente confortável.

Comércio exterior: superávit, sim — menor que em 2024
Os números do INDEC mostram que agosto fechou com exportações de US$ 7,865 bilhões e importações de US$ 6,463 bilhões, garantindo superávit mensal. No acumulado do ano, o saldo comercial é positivo, mas bem abaixo do recorde histórico de 2024. A diferença tem explicação: a normalização das importações com a liberalização cambial, a volta de pedidos reprimidos e um déficit persistente nas contas de serviços e rendas (fretes, viagens, lucros e juros) que drena parte dos ingressos de bens.

Outras torneiras de dólares
Além do campo, três canais sustentam a oferta de divisas:
1)  Energia: a produção da Vaca Muerta segue em alta, com novos dutos e a reativação de rotas de exportação para o Chile. O petróleo e o gás ganharam peso na pauta, e a substituição de importações de energia reduz a saída de dólares — com potencial de ingressos líquidos maiores nos próximos anos.

2)  Instrumentos para aliviar passivos em moeda estrangeira: as séries do BOPREAL, emitidas pelo BCRA, permitiram alongar e ordenar dívidas comerciais de importadores, reduzindo a pressão imediata sobre o mercado oficial.

3)  Apoio financeiro oficial: além do FMI, o swap ativado com o Banco Popular da China — renovado por mais um ano — reforça o “colchão” de liquidez; e bancos multilaterais anunciaram aceleração de desembolsos para projetos em mineração, energia e cadeias críticas, o que tende a irrigar o balanço de pagamentos ao longo dos próximos meses.

Por que a escassez pode voltar
Apesar do alívio tático, o quadro estrutural ainda é frágil. O país convive com: (i) reservas líquidas ainda muito baixas; (ii) conta de serviços e rendas deficitária; (iii) maior demanda por dólares após a retirada dos controles; e (iv) sensibilidade do câmbio a ruídos políticos. O disparo de declarações de exportação com o corte temporário de tributos é, por definição, concentrado no tempo; o dinheiro entra conforme os embarques acontecem e conforme o financiamento de comércio exterior é desembolsado — não de uma só vez. E a defesa da banda, quando necessária, consome reservas.

O que observar daqui para frente
Fluxo efetivo de embarques do agro entre outubro e março — e o ritmo de liquidação de exportações.
Intervenções do BCRA e a dinâmica do câmbio frente ao teto da banda.
Meta de reservas líquidas do programa com o FMI e seu cumprimento trimestre a trimestre.
Energia: volumes exportados de óleo bruto e gás, e o cronograma de ampliações de escoamento.
Contas de serviços e rendas, que podem anular parte do ganho do comércio de bens.

Conclusão
A Argentina comprou tempo — não uma garantia. As medidas recentes e o ciclo de exportações tendem a assegurar dólares suficientes para atravessar os próximos meses com menor estresse, sobretudo se a banda cambial for defendida com parcimônia e se o comércio efetivamente liquidar o que foi declarado. Mas “não faltar dólares” de modo duradouro exige algo além de choques pontuais: reconstrução consistente de reservas líquidas, superávits de conta corrente repetidos e previsibilidade regulatória. Sem isso, o alívio de hoje pode virar novo aperto amanhã.

 



Apresentou


Impostos, China e Milei

O debate tributário no Brasil, as mudanças regulatórias da China para estabilizar seus mercados e o xadrez eleitoral argentino convergem para um ponto comum: receitas extraordinárias e canetadas regulatórias ajudam a ganhar tempo, mas não substituem reformas consistentes e crescimento.Brasil: arrecadar mais já não resolve o essencialA carga tributária bruta brasileira alcançou patamar elevado em 2024, e o governo opera em 2025 com bloqueios de despesa para manter a meta fiscal. Ao mesmo tempo, avança a regulamentação da reforma tributária que cria a CBS (tributo federal) e o IBS (estadual/municipal), além do imposto seletivo. O texto que organiza a transição foi aprovado na comissão temática do Senado e seguiu ao Plenário. O objetivo declarado é simplificar, reduzir contencioso e melhorar o ambiente de negócios.No comércio eletrônico internacional, as regras foram endurecidas: compras de até 50 dólares passaram a pagar imposto de importação reduzido, com ICMS cobrado à parte (e, em alguns estados, majorado), enquanto valores acima desse teto pagam alíquota maior — desenho pensado para coibir a subfaturação e reduzir distorções. Há, porém, propostas em tramitação para aliviar parcialmente esse custo ao consumidor, o que mostra que a calibragem do sistema ainda está em disputa.Do lado do gasto, o governo mantém contingenciamentos para garantir a meta deste ano, enquanto para 2026 conta com medidas de revisão de renúncias e racionalização de despesas. O recado essencial do quadro fiscal é que “fazer caixa” com novos tributos tem efeito limitado num país cuja carga já é alta e onde a produtividade avança devagar. Sem melhora na qualidade do gasto, segurança jurídica e competitividade, o ganho de arrecadação tende a ser curto — e se converte em menor tração para o investimento privado.China: regras mais finas para um mercado mais estávelA China vem ajustando a arquitetura regulatória de capitais na tentativa de reduzir a volatilidade e atrair poupadores de longo prazo. Em 2025, entraram em vigor regras detalhadas para negociação programada nas bolsas de Xangai, Shenzhen e Pequim, e foram estabelecidas normas específicas para program trading no mercado de futuros, com ênfase em transparência, reporte prévio e limites a condutas anômalas típicas de alta frequência. Em paralelo, o regulador abriu consulta para cortar taxas cobradas na distribuição de fundos, com a finalidade de baratear custos ao investidor e alongar prazos de aplicação.Há, ainda, intervenções pontuais que mostram o fio condutor de “reduzir riscos e domar excessos”: orientação para que seguradoras direcionem recursos adicionais à renda variável e sinais de cautela com a tokenização de ativos no exterior. O resultado prático é um ambiente em que IPOs, operações alavancadas e estratégias quantitativas convivem com uma malha de salvaguardas mais densa — menos “tranco” no curto prazo, mais previsibilidade para poupança doméstica e capitais estrangeiros que operam via Stock Connect.Argentina: Milei ganha fôlego, mas enfrenta prova decisivaA inflação mensal recuou para patamar baixo em agosto e a taxa interanual cedeu substancialmente, enquanto a pobreza no primeiro semestre recuou ante o fim de 2024. Esses indicadores dão algum fôlego político ao governo, mas a situação social continua delicada e a economia, frágil.Do lado financeiro, Washington sinalizou apoio explícito com uma negociação de linha de swap em grande escala e outras ferramentas de suporte, o que ajudou a melhorar preços de ativos locais no curto prazo. Esse vento de cauda, porém, depende de condições e de governabilidade: as eleições legislativas de 26 de outubro serão um divisor de águas para a capacidade do Executivo de avançar com reformas e, principalmente, para sustentar a normalização cambial e reduzir o prêmio de risco. Reveses eleitorais provinciais recentes e ruídos políticos aumentam a incerteza.O fio comum: tempo comprado não é tempo ganhoBrasil, China e Argentina adotaram respostas que aliviam pressões imediatas — arrecadação extraordinária, regulação pró‑estabilidade, respaldo externo. O teste decisivo, entretanto, está nos fundamentos: simplificação tributária acompanhada de gasto público mais eficiente e previsível; regras de mercado que contenham distorções sem asfixiar liquidez e inovação; e reformas que aumentem produtividade e investimento. Sem isso, “mais imposto”, “mais regra” ou “mais apoio” funcionam como analgésicos: diminuem a dor, mas não curam a doença.

Galípolo: Força e Liquidez?

As redes sociais voltaram a especular sobre a possibilidade de Michael Saylor e a sua empresa MicroStrategy serem “liquidados” devido à queda recente do preço do bitcoin. A discussão se intensificou quando o custo do financiamento de curto prazo nos Estados Unidos subiu: as taxas do mercado de recompra (repo) ficaram acima do teto da faixa meta do Federal Reserve, indicando que a liquidez está mais escassa e pressionando investidores alavancados. Mas a estrutura de financiamento de Saylor é diferente da de um investidor que opera em bolsa com margem; a MicroStrategy usa notas conversíveis e instrumentos de longo prazo para comprar bitcoin, e analistas apontam que a empresa está bem posicionada para atravessar um mercado de baixa. Um conceituado analista do mercado cripto afirmou recentemente que a MicroStrategy não deve ser liquidada no próximo ciclo de queda e que as datas de vencimento mais sensíveis só começam em 2027.Esse analista observou que a primeira data em que investidores podem exigir o resgate antecipado de notas ocorre em setembro de 2027, e que a empresa precisaria vender parte do seu estoque de BTC apenas se o preço da moeda digital ficasse muito abaixo dos níveis actuais por vários anos. Ainda assim, há um risco de liquidação parcial em 2028 se o bitcoin não subir o bastante, porque as notas conversíveis podem ser resgatadas nesse momento. O próprio Saylor destacou que a empresa alterou sua estrutura de capital para emissões preferenciais perpétuas e que pode suportar uma queda de 80 % no preço do bitcoin sem precisar vender posições.A pergunta sobre se “a liquidez dos bancos centrais acabou” surge porque, depois de anos de estímulos, as autoridades monetárias estão reduzindo seus balanços e mantendo juros altos. Nos Estados Unidos, o aperto monetário reduziu as reservas bancárias para cerca de 2,8 trilhões de dólares, perto do limite que o Fed considera “amplo” para evitar disfunções. Isso e a forte emissão de títulos públicos levaram as taxas de repo a subir, sinalizando menor disponibilidade de caixa. Analistas observam que a combinação de déficit fiscal elevado e aumento da conta do Tesouro drena reservas do setor privado; por isso o Fed tem alertado bancos para usarem a sua Linha Permanente de Repo como amortecedor e discute com as instituições como melhorar o fluxo de liquidez. Ao mesmo tempo, a escassez não é absoluta: dados do Banco de Compensações Internacionais mostram que o crédito em moeda estrangeira cresceu 6 % em dólares e 13 % em euros em 12 meses até junho de 2025, indicando que o crédito internacional continua a se expandir.Na zona do euro, a supervisora do Banco Central Europeu, Claudia Buch, advertiu que os bancos devem se preparar para um ambiente com menos liquidez e reforçar o colateral disponível para empréstimos de emergência, mas elogiou o preparo das instituições e disse que o ajuste está sendo feito de forma ordenada. No Brasil, o Banco Central segue ativo no mercado de câmbio: em novembro anunciou leilões de venda de dólares com compromisso de recompra no valor de dois bilhões de dólares para rolar contratos que vencem no começo de 2026. Esse tipo de operação evita que a procura por dólares pressione o real e garante liquidez ao sistema financeiro. Ou seja, a liquidez dos bancos centrais não “acabou”; ela está sendo administrada com mais cuidado, e há instrumentos prontos para socorrer o mercado quando surgem tensões.No meio dessa reconfiguração global, o Brasil vive a transição de comando no Banco Central. Gabriel Galípolo, economista de perfil técnico e ex‑secretário do Ministério da Fazenda, foi aprovado pelo Senado para presidir a autoridade monetária a partir de 2025. A nomeação foi recebida com otimismo pelo mercado: analistas destacam sua experiência em liderança e rigor técnico como fundamentais para conduzir a política monetária. Mesmo os profissionais que se preocupam com a proximidade de Galípolo com o governo reconhecem que sua indicação sinaliza continuidade na busca da meta de inflação. Durante a sabatina no Senado ele defendeu a independência do BC e ressaltou que “todo mundo pode brigar com o Banco Central, mas o BC não pode brigar com os dados”; especialistas interpretaram a frase como um compromisso com decisões baseadas em indicadores e não em pressões políticas.Pouco depois, ainda como diretor de Política Monetária, participou de um fórum de investimentos no qual afirmou que o BC não dá pistas sobre os próximos passos justamente porque depende de dados e tem de manter a postura conservadora até que a inflação converja para a meta. A autoridade monetária manteve a Selic em 15 % e sinalizou que essa taxa elevada deve durar “por um período bastante prolongado” para garantir a convergência para o centro da meta de 3 %. Galípolo também reconheceu que a inflação de serviços segue pouco compatível com a meta e que é preciso cautela, mas sublinhou que o país combina crescimento contínuo com desemprego baixo, o que permite usar juros altos por mais tempo sem estagnar a economia.O elogio ao estilo sereno e institucional de Galípolo também veio da Federação Brasileira de Bancos, que considerou promissora a condução da transição e ressaltou a importância de manter a confiança dos agentes econômicos. Investidores observaram com bons olhos a unanimidade do Comitê de Política Monetária na decisão de subir os juros em sua primeira reunião com Galípolo como diretor, interpretando o voto como um aceno de independência. Outros especialistas lembram que o novo presidente terá de mostrar sensibilidade social ao ajustar a política monetária, evitando que o controle da inflação asfixie o crescimento. Em resumo, enquanto as redes sociais debatem eventuais liquidações de megainvestidores e teorias de que a liquidez global secou, a realidade mostra instituições e autoridades agindo para administrar riscos. O caso de Saylor exemplifica como estratégias estruturadas de longo prazo são menos vulneráveis a oscilações de mercado, e o debate sobre liquidez indica um período de transição em que a oferta de dinheiro não desapareceu, mas será usada com parcimônia. Já no Brasil, a figura de Gabriel Galípolo surge como um sinal de continuidade com prudência, conciliando o combate à inflação com a necessidade de preservar o dinamismo da economia.

A 'Evergrande' dos carros?

Uma declaração contundente do fundador da Great Wall Motor (GWM), Wei Jianjun, acendeu um alerta vermelho no maior mercado automotivo do mundo. Em entrevista concedida no fim de maio de 2025, o executivo afirmou que o setor automotivo da China “já tem sua própria ‘Evergrande’” — referência ao conglomerado imobiliário cuja implosão simboliza excesso de alavancagem, expansão desenfreada e riscos sistêmicos. Ele não citou nomes. A fala bastou para deflagrar um debate público sobre dívidas, transparência e a sustentabilidade da atual guerra de preços entre montadoras.Desde então, a reação corporativa foi imediata. A maior fabricante de veículos elétricos do país repudiou especulações de que seria o alvo do comentário, classificou a analogia como infundada e afirmou que buscará responsabilização contra boatos. Outras montadoras pediram foco em gestão de riscos, enquanto investidores e fornecedores passaram a vasculhar balanços à procura de sinais de estresse financeiro.Guerra de preços: incentivos agressivos e margens comprimidasO pano de fundo da polêmica é um ambiente de descontos históricos, que se intensificou na última semana de maio, quando modelos populares foram reposicionados com promoções agressivas. As ações de fabricantes listadas despencaram na esteira dos anúncios, refletindo o temor de que a disputa por volume esteja corroendo margens e pressionando toda a cadeia de suprimentos. Analistas já falam em “destruição de valor” se a competição abaixo de custo persistir.Capacidade demais, demanda de menosDepois de anos de expansão acelerada, a indústria convive com sobrecapacidade e desaceleração do consumo doméstico. O mercado ficou superlotado de marcas e lançamentos, enquanto subsídios encolheram e o crédito encareceu. Parte dos fabricantes mais frágeis opera com capital de giro negativo, atrasando pagamentos a fornecedores e alongando prazos de aceitação de mercadorias — um círculo vicioso que fragiliza o ecossistema.Sinais duros de estresse: reestruturações e “contabilidade criativa”Em 2025, um dos nomes mais discutidos do segmento entrou formalmente em recuperação judicial, após meses de caixa apertado, lojas fechadas e queda brusca nas vendas. Outro ex‑queridinho das startups, que já havia solicitado pré‑reorganização em 2023, avançou na reestruturação e anunciou planos para retomar produção sob novo controlador. Paralelamente, vieram à tona práticas de antecipação artificial de vendas por meio de registros e seguros antes da entrega ao cliente — expediente que inflou números comerciais e agora é alvo de investigação e reprimendas setoriais.Resposta oficial: freios no “vale‑tudo”Diante do quadro, reguladores intensificaram ações para coibir propaganda enganosa e difamações no setor, além de abrirem consulta para atualizar a Lei de Preços com restrições explícitas a vendas abaixo de custo para eliminar concorrentes. A associação nacional de montadoras, por sua vez, articulou um código de conduta que padroniza a aceitação de mercadorias em até três dias e o pagamento a fornecedores em, no máximo, 60 dias — tentativa de aliviar a tesouraria da cadeia e reduzir o risco de calotes.A válvula de escape externa ficou mais estreitaA estratégia de “exportar o excedente” esbarrou em barreiras maiores. A União Europeia aplicou medidas compensatórias definitivas sobre importações de elétricos feitos na China, com alíquotas diferenciadas por grupo industrial, além do direito aduaneiro padrão. Nos Estados Unidos, o governo elevou a tarifa sobre veículos elétricos chineses para 100% e estuda impor limitações adicionais a software e conectividade embarcados, o que pode travar ainda mais o acesso ao mercado.Há, afinal, uma “Evergrande” no setor?A analogia de Wei Jianjun mira menos um alvo específico e mais um conjunto de comportamentos: endividamento elevado, crescimento a qualquer preço e dependência de práticas comerciais insustentáveis. O recado foi entendido: sem disciplina financeira e sem uma competição mais ordenada, a combinação de sobrecapacidade, margens exíguas e confiança abalada pode precipitar novas quebras. A expectativa entre líderes do setor e analistas é de consolidação acelerada até meados da década — com poucos grupos capitalizados sobrevivendo à depuração. Em outras palavras, se a “Evergrande automotiva” já existe, o mercado e os reguladores correm para impedir que o estouro contamine todo o ecossistema.