

Rússia e Ucrânia trocam farpas e provocam dúvidas sobre negociações de paz em Istambul
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, chamou de "pura fachada" a delegação da Rússia que viajou a Istambul para as conversações previstas para esta quinta-feira (15), enquanto Moscou respondeu e chamou o ucraniano de "palhaço", o que provoca dúvidas sobre as negociações de paz.
A tensão aumentou poucas horas antes da anunciada reunião entre russos e ucranianos, prevista, segundo Moscou, para a tarde de quinta-feira na cidade turca.
Apesar de ter sido Vladimir Putin quem anunciou a reunião, e apesar da insistência de Zelensky em um encontro presencial, o presidente russo "não tem planos no momento" de viajar para a Turquia, segundo seu porta-voz, Dmitri Peskov.
A delegação russa está liderada por um de seus conselheiros, Vladimir Medinski, acompanhado por dois vice-ministros.
A representação com nomes de perfil baixo contrasta com a reunião de alto nível de quarta-feira em Moscou para a "preparação das próximas negociações", que teve as presenças de Putin, seu ministro das Relações Exteriores e do comandante do Estado-Maior, entre outros.
Medinski, nascido na Ucrânia soviética, é conhecido por sua interpretação nacionalista da história russa.
Em 2023, ele declarou que a Ucrânia era "parte da terra russa" e participou nas últimas negociações diretas entre Kiev e Moscou, pouco tempo depois do início da invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022, que não apresentaram resultados.
Zelensky chegou nesta quinta-feira a Ancara, capital da Turquia, e criticou a delegação russa, que chamou de "pura fachada", questionando sua capacidade para "tomar decisões".
Ele não explicou se participará nas conversações, mas terá uma reunião com seu homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan.
Minutos depois, a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, reagiu às declarações de Zelensky. "Quem usa as palavras 'pura fachada'? Um palhaço? Um fracassado?", afirmou.
- Trump quer reunião com Putin -
A troca de farpas gera dúvidas poucas horas antes de uma reunião que supostamente deveria iniciar um processo diplomático para encontrar uma solução para o conflito, desencadeado pela invasão russa de fevereiro de 2022 e que provocou dezenas de milhares de mortos.
Apesar da previsão de início da reunião durante a tarde, segundo Moscou, a Ucrânia não comunicou o calendário do encontro.
Em Ancara, Zelensky disse que viajou com uma delegação de "alto nível", com representantes do Ministério das Relações Exteriores, do Exército e dos serviços de inteligência.
Centenas de jornalistas estavam desde cedo em frente ao Palácio Dolmabahçe, onde a reunião deve acontecer, às margens do Bósforo.
As negociações foram anunciadas pelo presidente russo no fim de semana passado, como resposta a um ultimato dos países europeus e da Ucrânia, com o apoio dos Estados Unidos, para que a Rússia aceite um cessar-fogo antes de começar a negociar. Putin rejeitou a proposta de trégua.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse na quinta-feira que "nada vai acontecer" no conflito na Ucrânia até que ele possa se reunir com Putin e não descartou viajar na sexta-feira à Turquia, caso sejam registrados avanços.
"Não acredito que vai acontecer nada, gostem ou não, até que ele e eu nos reunamos", disse Trump a bordo do Air Force One, durante a viagem do Catar para os Emirados Árabes Unidos, parte de sua visita ao Golfo.
Seu secretário de Estado, Marco Rubio, insistiu que Trump está "aberto" a "qualquer mecanismo" que possa trazer a paz.
Os dois países mantêm posições difíceis de conciliar.
A Rússia exige que a Ucrânia renuncie ao processo de adesão à Otan e a garantia de que vai manter os territórios ucranianos anexados por Moscou, condições inaceitáveis para Kiev e seus aliados.
A Ucrânia, por sua vez, quer "garantias de segurança" ocidentais sólidas para evitar novos ataques russos e que o Exército de Moscou, que controla quase 20% do território ucraniano, se retire do país.
S.Sánchez--ECdLR