

Para imigrantes nos EUA, audiências obrigatórias se tornaram uma ameaça
Em corredores sombrios de um edifício federal em Nova York, agentes mascarados e armados prendem imigrantes que comparecem a audiências obrigatórias, um sinal de que a campanha do presidente Donald Trump contra a imigração não dá trégua.
Trump, que prometeu acabar com o que considera uma "invasão" de "criminosos vindos do exterior", incentivou as autoridades a agirem com mais agressividade para cumprir a meta de um milhão de deportações anuais que estabeleceu.
Desde o retorno do republicano à Casa Branca em janeiro, agentes do Departamento de Segurança Interna (DHS) passaram a adotar a tática de esperar do lado de fora dos tribunais de imigração em todo o país para prender aqueles que comparecem às audiências marcadas para determinar se têm direito a permanecer no país.
Faltar a uma audiência em um tribunal de imigração é, em alguns casos, um crime, e pode, por si só, tornar os imigrantes passíveis de deportação, o que deixa muitos com pouca alternativa a não ser comparecer e enfrentar a prisão.
Um fotógrafo da AFP viu esta semana agentes armados, com escudos, empregados por diferentes agências federais, incluindo a polícia de fronteira e imigração (ICE), rondando as salas de audiência, portando documentos com fotos dos imigrantes que buscavam deter.
Os agentes prenderam quase uma dúzia de imigrantes de diferentes países em apenas algumas horas, no 12º andar do Edifício Federal Jacob K. Javits.
O controlador financeiro da cidade de Nova York, Brad Lander, que foi brevemente preso e algemado no mês passado por "obstruir" agentes do ICE no local, classificou essas audiências como uma "armadilha".
"Parece que são audiências judiciais, mas na verdade são armadilhas para atrair os imigrantes a comparecerem", afirmou na quarta-feira, em declarações do lado de fora do edifício federal localizado no sul de Manhattan.
– Casa Branca defende os agentes –
Lander relatou que vários solicitantes de asilo foram detidos por agentes de imigração.
Entre eles estava Carlos, um paraguaio que, segundo Lander, tinha um pedido de asilo pendente sob a Convenção Contra a Tortura, um dos principais tratados internacionais de direitos humanos, além de uma data futura já marcada para comparecer ao tribunal.
"O juiz explicou em detalhes como apresentar seu processo, a fim de fornecer informações adicionais sobre suas interações com a polícia paraguaia e justificar seu direito ao asilo segundo a Convenção contra a Tortura", explicou.
Após a audiência, os agentes "sem qualquer identificação visível, distintivos ou mandado de prisão agarraram Carlos e o levaram rapidamente em direção à escada dos fundos", relatou.
Lander, uma figura de destaque do Partido Democrata, afirmou que os agentes foram ameaçadores e empurraram a irmã de Carlos, que o acompanhava, ao chão.
A Casa Branca afirmou recentemente que "os corajosos homens e mulheres do ICE estão sob cerco dos democratas enlouquecidos, mas não foram dissuadidos de sua missão".
"Todos os dias, esses heróis arriscam suas próprias vidas para tirar o pior do pior (...) de nossas ruas e de nossos bairros", afirmou em um documento com fotografias e uma breve descrição dos detidos, em sua maioria latino-americanos.
No entanto, em frente ao edifício em Manhattan, Lander advertiu que "qualquer pessoa que vier aqui pode ver (...) que o estado de direito está se deteriorando".
Os imigrantes presos nessas operações são frequentemente detidos em centros do ICE enquanto aguardam uma possível deportação dos Estados Unidos.
Nos últimos meses, as autoridades abriram novos centros desse tipo, incluindo o chamado "Alcatraz dos jacarés", construído em meio aos pântanos da Flórida.
O.Olivares--ECdLR