El Comercio De La República - A Dívida real é bem maior

Lima -

A Dívida real é bem maior




Os números que abrem telejornais e relatórios oficiais contam apenas parte da história. Eles mostram a dívida “visível” — normalmente a do governo geral —, mas deixam na sombra obrigações que, quando somadas, ampliam de forma significativa a conta a ser paga pelos contribuintes ao longo dos próximos anos.

O primeiro ponto cego é metodológico. O indicador mais citado, a dívida bruta do governo, não inclui tudo o que o setor público deve. Ficam de fora garantias concedidas a empresas e bancos, compromissos de parcerias público-privadas (PPPs) lançados fora do balanço e passivos que só “aparecem” quando o risco se materializa. Em períodos de juros altos ou desaceleração, esses riscos saem do rodapé para o cabeçalho — com impacto direto sobre o caixa.

O segundo ponto é institucional: grande parte do que o Estado controla não está no recorte “governo geral”. Empresas estatais e o próprio banco central formam, com União, estados e municípios, um setor público mais amplo. Quando uma estatal precisa de capitalização, quando distribui menos dividendos ou quando um banco central acumula perdas com a política monetária, a fatura acaba, de um jeito ou de outro, no contribuinte. Ignorar essas interligações é subestimar o tamanho real da dívida.

No Brasil, a fotografia oficial mais recente aponta uma dívida bruta elevada em relação ao PIB e um déficit nominal persistente. Mas o filme é mais longo. O estoque de precatórios — dívidas judiciais — passa por nova regra de pagamento que limita desembolsos anuais e pode empurrar saldos para frente, aumentando o passivo implícito de estados e municípios. Além disso, as dívidas regionais seguem sendo renegociadas, com alongamentos e reduções de juros que aliviam o curto prazo, mas carregam efeitos no horizonte.

Há ainda o capítulo dos bancos centrais. Depois de anos de expansão de balanços e, mais recentemente, de alta de juros, várias autoridades monetárias registraram perdas contábeis expressivas ou passaram a transferir menos recursos ao Tesouro. Essas oscilações não entram na métrica “primária”, mas afetam necessidades de financiamento e, portanto, a trajetória da dívida pública ao longo do tempo. No Brasil, o resultado do banco central — lucro ou prejuízo — também transita para o Tesouro, amplificando essa ponte fiscal-monetária.

As estatais merecem atenção especial. Mesmo quando lucrativas no agregado, elas carregam dívidas relevantes e, em casos específicos, exigem aportes, subsídios implícitos ou equalizações de juros. Uma piora de resultados setoriais (por exemplo, em infraestrutura) ou decisões de política pública podem transformar rapidamente um risco potencial em obrigação efetiva — e, portanto, em dívida “de todos”.

O quadro internacional confirma a tese de que a dívida é maior do que parece. Na China, a reestruturação das dívidas “ocultas” de veículos de financiamento locais (LGFVs) está em curso e os valores estimados variam muito acima do que aparece nas estatísticas tradicionais. Em economias avançadas, a conta de indenizações ou de juros sobre reservas bancárias também está reconfigurando a fronteira entre política monetária e fiscal — um lembrete de que a dívida “fora do radar” existe em diferentes formatos.

O que fazer? Transparência plena e métricas melhores. Publicar, de forma regular, um balanço patrimonial do setor público que consolide governo, estatais e banco central. Divulgar, com granularidade, estoques e cronogramas de precatórios, garantias concedidas, obrigações de PPPs e exposições de estatais. Explicitar os fluxos entre banco central e Tesouro. E incorporar cenários de estresse que mostrem quanto dessas contingências pode virar dívida de fato em diferentes choques.

Conclusão: a dívida “oficial” é apenas o piso. Entre passivos contingentes, regras que empurram pagamentos para o futuro, perdas/quase-fiscais e interdependências dentro do setor público, o tamanho econômico da dívida é maior do que o divulgado nos indicadores de rotina. Só com métricas completas, disciplina fiscal e comunicação honesta será possível reduzir o risco de surpresas — e, principalmente, o custo para a sociedade.



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Meta, câmbio e o pacto Nvidia

Brasil entra em agosto sob um triplo choque de realidade. A meta fiscal, tratada pelo governo como bússola, virou motivo de sarcasmo entre agentes de mercado; o câmbio recua em ritmo acelerado, aliviando parte das pressões financeiras; e, nos EUA, um acordo inédito entre a Casa Branca e a Nvidia reabre o canal de vendas de chips de IA para a China em troca de receita para o governo — uma engenharia regulatória que intriga juristas e investidores.Meta fiscal: alvo fixo, credibilidade móvelDepois de um 2024 “no limite”, o governo reafirmou para 2025 a meta de déficit primário zero com faixa de tolerância, e projetou superávit de 0,25% do PIB para 2026. No discurso oficial, trata-se de um compromisso inegociável. Na prática, porém, a confiança foi sendo corroída pela dependência de receitas extraordinárias, renúncias reformatadas e manobras de apuração. Daí a ironia que pegou nas mesas de operação — “a meta virou piada” — não porque o número seja impossível, mas porque o caminho para alcançá-lo ainda parece frágil: base tributária concentrada, gasto obrigatório rígido e baixa previsibilidade legislativa. Enquanto isso, o setor privado reprecifica risco: crédito mais seletivo, prazos mais curtos e prêmios mais altos para papéis longos.Câmbio em queda: trégua que melhora o humorO dólar caiu para a casa de R$ 5,38 em meados de agosto, o menor nível em mais de um ano, ajudado por fatores externos (apetite a risco global e expectativa de alívio monetário nas economias centrais) e internos (balança comercial robusta e percepção — ainda que contestada — de disciplina fiscal mínima). A bolsa reagiu, e o custo de hedge cambial cedeu. Para empresas importadoras, o alívio é imediato; para exportadores, exige ajuste fino de preços e proteção de margens. A volatilidade, contudo, segue elevada: qualquer ruído fiscal, surpresa inflacionária ou mudança no cenário de juros lá fora pode devolver prêmio ao dólar rapidamente.O acordo “esquisito” com a Nvidia: precedente ou gambiarra?Em Washington, a administração Trump negociou com Nvidia e AMD um arranjo de “liberar com contrapartida”: licenças para vender versões rebaixadas de chips de IA à China, mediante a transferência de 15% da receita dessas vendas ao Tesouro americano. O pacote inclui modelos como o H20 (Nvidia) e o MI308 (AMD) e acena, no limite, para versões modificadas de futuras gerações. É um desenho sem paralelo recente: contorna o dilema segurança-nacional versus mercado ao criar um “pedágio regulatório” — e levanta dúvidas constitucionais e legais. Também abre margem para retaliações ou substituição tecnológica acelerada do lado chinês. Para o investidor, a mensagem é dupla: o ciclo de IA continua monumental, mas a geopolítica segue no volante.Impactos cruzados para Brasil e mercados-  Cenário fiscal — O humor melhorou com o câmbio, mas a precificação de risco soberano continuará sensível a cada relatório de arrecadação, corte de gasto obrigatório e evolução da pauta no Congresso.-  Ativos locais — Juros longos podem ganhar fôlego se o dólar permanecer comportado, mas exigem prova trimestral de meta fiscal crível.-  Tecnologia & semicondutores — A reabertura parcial de exportações para a China sustenta receitas de líderes de IA, porém sob incerteza jurídica e de compliance.- Commodities — Real mais forte altera termos de troca e lucros setoriais; hedge e governança de capital de giro tornam-se centrais.-  Fluxos globais — Qualquer inflexão na política americana para chips (ou reação chinesa) pode reprecificar ciclos de CAPEX de nuvem, data centers e, por tabela, cadeias brasileiras expostas a tecnologia.Como se posicionar (sem ilusões)-  Tese fiscal: privilegie crédito corporativo de emissores com geração de caixa resiliente e baixa dependência do ciclo fiscal; evite duration longa soberana sem proteção.-  Câmbio: use recuos do dólar para reequilibrar proteção em empresas importadoras; exportadores devem manter políticas de hedge dinâmicas.-  Tech global: a tese de IA segue válida, mas o risco regulatório virou variável de primeira ordem — diversificação entre segmentos (chips, infraestrutura, software de camada) reduz surpresas.-  Portfólios locais: combine bolsa defensiva (utilities, energia) com selecionados plays de valor cíclico; mantenha caixa tático para aproveitar overshoots.-  Governança: para quem depende de dólar (insumos, dívida), formalize gatilhos de hedge e cenários; improviso custa caro quando a maré vira.

Brasil: Crise Econômica em 2025

Brasil enfrenta um momento de grande incerteza econômica. Com projeções de crescimento revisadas para baixo, preocupações com a sustentabilidade fiscal e uma inflação persistente, o país se prepara para desafios significativos em 2025. Além disso, fatores externos e internos, como o cenário político e as tensões globais, aumentam a complexidade do panorama. Neste artigo, exploramos os principais perigos e o que mais preocupa os brasileiros hoje.Cenário EconômicoAs projeções para o crescimento do PIB brasileiro em 2025 estão sendo revisadas para baixo por instituições internacionais. Estimativas que antes apontavam um crescimento de 2,2% foram reduzidas para 1,8%, enquanto outras projeções indicam 2%. O governo brasileiro, por outro lado, mantém uma perspectiva mais otimista, prevendo um crescimento de 2,3% para este ano e 2,5% para 2026. Essa diferença de visões sublinha a incerteza que ronda a economia nacional.Desafios FiscaisA sustentabilidade fiscal é uma preocupação central. Há alertas sobre a necessidade de um arcabouço fiscal sólido e uma reforma tributária para conter o aumento da dívida pública, que já está em níveis altos quando comparada a outros países emergentes. Sem essas ações, o risco de uma crise de dívida séria paira sobre o Brasil.Pressão InflacionáriaA inflação segue como um problema persistente. Projeções apontam que ela pode permanecer acima da meta de 3%, com uma tolerância de 1,5 ponto percentual. Fatores como a depreciação do real e os efeitos prolongados de políticas monetárias mais rígidas alimentam essa pressão, dificultando o controle dos preços.Política e Fatores ExternosO cenário político contribui para a instabilidade. Com eleições no horizonte e possíveis mudanças nas políticas econômicas, a continuidade das reformas necessárias está em xeque. Fora do país, a desaceleração econômica global e tensões geopolíticas podem atingir o Brasil, especialmente por sua dependência de exportações de commodities.Outras PreocupaçõesAlém disso, as mudanças climáticas afetam diretamente o agronegócio, essencial para a economia brasileira. A evolução tecnológica e questões sociais, como desigualdade e desemprego, também geram inquietação entre a população.ConclusãoEm resumo, o Brasil encara um 2025 marcado por incertezas econômicas. Desafios fiscais, inflação elevada e um contexto político e externo instável demandam políticas firmes e reformas estruturais. A resposta do governo será decisiva para evitar que o pior cenário se concretize.

UE: Eleições Austríacas abalam o Establishment

Analisamos a recente sondagem austríaca que deu a vitória ao Partido da Liberdade, de extrema-direita, e explicamos porque é que a bandeira da União Europeia voltou a voar nas instituições europeias.