El Comercio De La República - Depois de Charlie Kirk

Lima -

Depois de Charlie Kirk




O assassinato de Charlie Kirk, 31, durante uma apresentação na Universidade do Vale de Utah, abriu uma fissura na política juvenil dos Estados Unidos e uma pergunta central: como o ecossistema que ele ajudou a construir — sobretudo a rede Turning Point — se reorganiza numa fase de forte polarização e de calendário eleitoral permanente?

Os factos imediatos e o clima político
As autoridades detiveram um suspeito de 22 anos, e o caso passou a dominar a agenda nacional. O Presidente determinou luto com bandeiras a meia‑haste e anunciou que Kirk será condecorado postumamente com a mais alta honraria civil do país. O governador de Utah descreveu o crime como uma agressão aos valores democráticos e prometeu resposta severa dentro da lei. Ao mesmo tempo, multiplicaram‑se apelos públicos para que não haja retaliação e para que se evite transformar o luto em combustível de violência política.

O tamanho do vazio
Kirk não era apenas um orador popular: era o principal angariador de recursos, estratega e rosto público do movimento juvenil conservador mais visível do país. O seu programa diário, as turnês em campus e os grandes eventos anuais tornaram‑no um “hub” de mobilização. A ausência dessa figura central testará a capacidade da organização de manter ritmo de captação financeira, presença digital e calendário de eventos sem o carisma e a disciplina operacional do fundador.

Quem assume e como
O ecossistema Turning Point não é monolítico: inclui um braço 501(c)(3) (formação e presença em escolas e universidades), um braço 501(c)(4) (mobilização político‑eleitoral), além de iniciativas voltadas a comunidades de fé e educação básica. Na prática, a transição passa por três frentes:

-  Operação diária e eventos — a manutenção de conferências nacionais e turnês regionais servirá como termómetro. Se o calendário de fim de ano se mantiver, o primeiro grande teste será transformar os palcos em tributos, sem perder conteúdo programático.
-  Mobilização de base — a máquina de “ballot chasing” e de liderança de precincts criada nos últimos ciclos eleitorais tende a continuar, porque assenta em aplicativos, formação padronizada e comandantes regionais. A dúvida é se conserva a mesma intensidade sem a figura‑símbolo a ligar tudo.
-  Narrativa e media — a continuidade do “show” diário (com coapresentadores, convidados e arquivos do próprio Kirk) pode preservar audiência no curto prazo. A médio prazo, será necessário definir uma voz principal ou apostar num modelo de rede com múltiplos anfitriões.

Três cenários de curto e médio prazo
-  Cenário 1: Continuidade disciplinada (mais provável no curto prazo): executivos dos diversos braços assumem funções públicas com divisão clara de tarefas; eventos são mantidos com homenagens; a operação de base foca‑se em eleições locais e estaduais de 2026. O impulso emocional do luto aumenta voluntariado e doações nos próximos meses, com tendência a normalizar no início de 2026.
-  Cenário 2: Reconfiguração personalista: uma ou duas figuras tornam‑se o novo rosto do movimento, concentrando presença em palcos e meios digitais. Vantagem: mensagem unificada e reposicionamento rápido. Risco: comparações inevitáveis com o fundador e possível fricção interna.
-  Cenário 3: “Confederação” de marcas e públicos: consolida‑se um arranjo em rede com vários polos — juventude, igrejas, educação, comités locais — cada qual com liderança própria, partilhando tecnologia, listas e palcos. Vantagem: resiliência organizacional. Risco: dispersão narrativa e competição por recursos.

Impacto nas universidades e na liberdade de expressão
É previsível um reforço de protocolos de segurança para eventos estudantis, com novas exigências de policiamento, varredura de locais e triagem de participantes. A pressão para cancelamentos preventivos pode aumentar, sobretudo em campus onde a administração receia riscos. A resposta das organizações estudantis pró‑e contra poderá definir o padrão: ou se preserva o espaço de debate com medidas proporcionais, ou se abre uma fase de “apagões” de conferências e debates políticos.

Mídias sociais: amplificação e ruído
O caso já evidenciou dois vetores: circulação veloz de desinformação e reações emocionais contraditórias. Numa arquitetura mediática onde clipes de segundos moldam leitores pouco dispostos a nuance, o pós‑Kirk exigirá “war rooms” de verificação e resposta quase em tempo real — tanto para proteger a imagem do movimento quanto para evitar que detratores definam a moldura interpretativa do episódio.

Financiamento e governança
Grandes doadores conservadores tendem a manter compromissos no curto prazo — tributos póstumos e promessas públicas criam “lock‑in” reputacional. A prova de stress virá com o orçamento do próximo exercício: quanto da captação dependia da presença direta de Kirk? Transparência sobre governança e critérios de sucessão pode mitigar riscos de fuga de capital filantrópico e evitar faccionalismo interno.

Efeito “mártir” e riscos correlatos
O enquadramento simbólico da morte — como sacrifício pela liberdade de expressão — pode galvanizar simpatizantes e recrutar novos ativistas. O risco é o espelho: a tentação de radicalizar linguagem contra adversários. O equilíbrio entre indignação moral e disciplina institucional será determinante para que a onda de solidariedade se converta em ganhos organizacionais, e não em mais espirais de hostilidade.

O que observar nos próximos 90 dias
Definições formais sobre interinidade e sucessão.
Calendário de grandes eventos mantido ou não.
Sinais de estabilidade na audiência diária e nas métricas de doações.
Ajustes de segurança em eventos de campus e reações administrativas.
Evolução do processo criminal e seu impacto no discurso público.

O movimento juvenil conservador dos EUA não começou nem terminará com uma única pessoa. A questão, agora, é se consegue preservar a energia, profissionalizar processos e moderar a retórica, tudo ao mesmo tempo. Se o conseguir, o “depois de Charlie Kirk” será menos uma ruptura e mais uma passagem — dura, simbólica e, ainda assim, operacional.



Apresentou


Impostos, China e Milei

O debate tributário no Brasil, as mudanças regulatórias da China para estabilizar seus mercados e o xadrez eleitoral argentino convergem para um ponto comum: receitas extraordinárias e canetadas regulatórias ajudam a ganhar tempo, mas não substituem reformas consistentes e crescimento.Brasil: arrecadar mais já não resolve o essencialA carga tributária bruta brasileira alcançou patamar elevado em 2024, e o governo opera em 2025 com bloqueios de despesa para manter a meta fiscal. Ao mesmo tempo, avança a regulamentação da reforma tributária que cria a CBS (tributo federal) e o IBS (estadual/municipal), além do imposto seletivo. O texto que organiza a transição foi aprovado na comissão temática do Senado e seguiu ao Plenário. O objetivo declarado é simplificar, reduzir contencioso e melhorar o ambiente de negócios.No comércio eletrônico internacional, as regras foram endurecidas: compras de até 50 dólares passaram a pagar imposto de importação reduzido, com ICMS cobrado à parte (e, em alguns estados, majorado), enquanto valores acima desse teto pagam alíquota maior — desenho pensado para coibir a subfaturação e reduzir distorções. Há, porém, propostas em tramitação para aliviar parcialmente esse custo ao consumidor, o que mostra que a calibragem do sistema ainda está em disputa.Do lado do gasto, o governo mantém contingenciamentos para garantir a meta deste ano, enquanto para 2026 conta com medidas de revisão de renúncias e racionalização de despesas. O recado essencial do quadro fiscal é que “fazer caixa” com novos tributos tem efeito limitado num país cuja carga já é alta e onde a produtividade avança devagar. Sem melhora na qualidade do gasto, segurança jurídica e competitividade, o ganho de arrecadação tende a ser curto — e se converte em menor tração para o investimento privado.China: regras mais finas para um mercado mais estávelA China vem ajustando a arquitetura regulatória de capitais na tentativa de reduzir a volatilidade e atrair poupadores de longo prazo. Em 2025, entraram em vigor regras detalhadas para negociação programada nas bolsas de Xangai, Shenzhen e Pequim, e foram estabelecidas normas específicas para program trading no mercado de futuros, com ênfase em transparência, reporte prévio e limites a condutas anômalas típicas de alta frequência. Em paralelo, o regulador abriu consulta para cortar taxas cobradas na distribuição de fundos, com a finalidade de baratear custos ao investidor e alongar prazos de aplicação.Há, ainda, intervenções pontuais que mostram o fio condutor de “reduzir riscos e domar excessos”: orientação para que seguradoras direcionem recursos adicionais à renda variável e sinais de cautela com a tokenização de ativos no exterior. O resultado prático é um ambiente em que IPOs, operações alavancadas e estratégias quantitativas convivem com uma malha de salvaguardas mais densa — menos “tranco” no curto prazo, mais previsibilidade para poupança doméstica e capitais estrangeiros que operam via Stock Connect.Argentina: Milei ganha fôlego, mas enfrenta prova decisivaA inflação mensal recuou para patamar baixo em agosto e a taxa interanual cedeu substancialmente, enquanto a pobreza no primeiro semestre recuou ante o fim de 2024. Esses indicadores dão algum fôlego político ao governo, mas a situação social continua delicada e a economia, frágil.Do lado financeiro, Washington sinalizou apoio explícito com uma negociação de linha de swap em grande escala e outras ferramentas de suporte, o que ajudou a melhorar preços de ativos locais no curto prazo. Esse vento de cauda, porém, depende de condições e de governabilidade: as eleições legislativas de 26 de outubro serão um divisor de águas para a capacidade do Executivo de avançar com reformas e, principalmente, para sustentar a normalização cambial e reduzir o prêmio de risco. Reveses eleitorais provinciais recentes e ruídos políticos aumentam a incerteza.O fio comum: tempo comprado não é tempo ganhoBrasil, China e Argentina adotaram respostas que aliviam pressões imediatas — arrecadação extraordinária, regulação pró‑estabilidade, respaldo externo. O teste decisivo, entretanto, está nos fundamentos: simplificação tributária acompanhada de gasto público mais eficiente e previsível; regras de mercado que contenham distorções sem asfixiar liquidez e inovação; e reformas que aumentem produtividade e investimento. Sem isso, “mais imposto”, “mais regra” ou “mais apoio” funcionam como analgésicos: diminuem a dor, mas não curam a doença.

Reunião, Stablecoins e Carros

Em 28 de fevereiro de 2025, o encontro entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, na Casa Branca, transformou‑se num confronto televisivo. O tom duro e público do diálogo — com advertências sobre “risco de guerra mundial” e recados para Kiev “voltar quando estiver pronta para a paz” — levou analistas a caracterizá‑lo como “diplomacia de emboscada”: reunião formal usada como palco para constranger a parte visitante e impor narrativa. Meses depois, à margem da Assembleia‑Geral da ONU, Zelensky pediu mísseis Tomahawk a Washington como forma de pressionar Moscovo num eventual acordo, sinalizando que a relação não se rompeu, mas ficou condicionada por cálculo político. Paralelamente, em setembro, líderes democratas no Congresso exigiram uma reunião direta com Trump para evitar um fecho do governo, num ambiente em que encontros ao vivo viraram também instrumento de pressão pública. Em suma: a linha entre reunião de trabalho e encenação política ficou ténue — e isso tem efeitos reais na segurança europeia e na governabilidade norte‑americana.O que está estabelecido como fato hoje- A data, o local e o teor conflituoso do encontro Trump–Zelensky.- A solicitação ucraniana de mísseis de longo alcance em setembro.- O pedido de reunião de líderes democratas com a Casa Branca durante a disputa orçamental.Stablecoins ameaçam os emergentes?Stablecoins — criptoativos lastreados em ativos como dólar e T‑bills — saltaram da periferia para o centro da política monetária. Em julho de 2025, os EUA aprovaram uma lei federal que exige lastro líquido e divulgação mensal de reservas para emissores; na Europa, o MiCA entrou em vigor e um consórcio de nove bancos anunciou uma stablecoin em euros para 2026. O avanço regulatório legitima o produto como meio de pagamento.Para economias emergentes, porém, o risco não é abstrato. Estudos recentes do FMI e do BIS apontam para:-  “Dolarização digital”: quando residentes passam a manter e transacionar dólares tokenizados à margem do sistema bancário doméstico, enfraquecendo a transmissão da política monetária.-  Risco de estabilidade financeira: resgates em massa podem forçar vendas de T‑bills pelos emissores, amplificando a volatilidade de juros de curto prazo.-  Erosão da intermediação bancária e perda de senhoriagem.Os dados de adoção confirmam a pressão: na América Latina, Argentina e Brasil exibem participações de stablecoins no volume cripto acima da média global, usadas como proteção contra inflação e para pagamentos. Em poucos anos, o “dólar digital privado” tornou‑se infraestrutura de facto para remessas e tesouraria de pequenas empresas.O que está estabelecido como fato hoje-  Exigências de lastro e transparência na lei norte‑americana de 2025.-  Advertências do BIS sobre resgates e impactos em T‑bills; análises do FMI sobre dolarização e riscos à soberania monetária.-  Adoção intensa de stablecoins em países latino‑americanos com inflação elevada ou controles cambiais.-  Projeto bancário europeu para uma stablecoin em euros sob MiCA.O risco dos carros chineses: preços, poder e dados-  A ofensiva automotiva da China — sustentada por escala industrial e cadeia de baterias — provocou reação coordenada:-  A União Europeia tornou definitivas as tarifas compensatórias (com alíquotas que chegam a cerca de 45%, somadas à tarifa base de 10%) sobre VE fabricados na China, e fabricantes chineses contestam na Justiça da UE; Bruxelas e Pequim ainda testam a ideia de preços mínimos por modelo.-  Os Estados Unidos elevaram a tarifa sobre VE chineses para 100% e, em janeiro de 2025, finalizaram uma regra que restringe software e hardware de conectividade veicular de “países de preocupação”, com efeitos a partir dos modelos de 2027 (software) e cronograma adicional para hardware. O racional não é só industrial: é cibersegurança — carros conectados recolhem e transmitem imagens, telemetria e dados de localização.-  O Brasil reinstalou e acelerou o cronograma para retomar a tarifa de 35% sobre veículos elétricos e híbridos importados até julho de 2026 (montados) e, para kits CKD/SKD, antecipou a alíquota cheia para janeiro de 2027, numa tentativa explícita de proteger emprego e induzir produção local.Do lado chinês, há ajuste de rota: a partir de 2026, exportar VE exigirá licença do governo em Pequim, enquanto BYD acelera fábricas na Hungria (2025) e Turquia (2026) e planeia produzir na Europa para escapar de tarifas. O diagnóstico é claro: a disputa não é apenas por preço, mas por controle tecnológico e fluxos de dados.O que está estabelecido como fato hoje-  Tarifas europeias sobre VE chineses e disputa judicial; discussão sobre preço mínimo.-  Tarifa de 100% nos EUA e regra federal para bloquear componentes e software de conectividade de origem chinesa/russa em carros conectados.-  Recomposição/antecipação de tarifas no Brasil para 35%.-  Licenças de exportação de VE exigidas pela China a partir de 2026 e plano de produção local de grandes marcas chinesas na Europa.Por que as três agendas se cruzam-  Diplomacia como palco (reuniões que viram espetáculo) aumenta incerteza geopolítica e prêmio de risco — o que, por sua vez, alimenta procura por dólares tokenizados como porto seguro de curto prazo.-  Stablecoins em larga escala reforçam o apetite global por T‑bills e criam canais de fuga de capitais em choques políticos; emergentes ficam mais expostos a ciclos de dólar.-  Carros chineses combinam escala industrial, vantagem tecnológica e capacidade de coleta de dados; por isso, viraram questão de segurança (EUA), de política industrial (UE/Brasil) e de padrões regulatórios (ciber e privacidade).Tradução prática: num mundo onde reuniões viram armas retóricas, dinheiro estável é código e carros são computadores com rodas, a soberania — política, monetária e tecnológica — voltou ao centro da agenda.

A 'Evergrande' dos carros?

Uma declaração contundente do fundador da Great Wall Motor (GWM), Wei Jianjun, acendeu um alerta vermelho no maior mercado automotivo do mundo. Em entrevista concedida no fim de maio de 2025, o executivo afirmou que o setor automotivo da China “já tem sua própria ‘Evergrande’” — referência ao conglomerado imobiliário cuja implosão simboliza excesso de alavancagem, expansão desenfreada e riscos sistêmicos. Ele não citou nomes. A fala bastou para deflagrar um debate público sobre dívidas, transparência e a sustentabilidade da atual guerra de preços entre montadoras.Desde então, a reação corporativa foi imediata. A maior fabricante de veículos elétricos do país repudiou especulações de que seria o alvo do comentário, classificou a analogia como infundada e afirmou que buscará responsabilização contra boatos. Outras montadoras pediram foco em gestão de riscos, enquanto investidores e fornecedores passaram a vasculhar balanços à procura de sinais de estresse financeiro.Guerra de preços: incentivos agressivos e margens comprimidasO pano de fundo da polêmica é um ambiente de descontos históricos, que se intensificou na última semana de maio, quando modelos populares foram reposicionados com promoções agressivas. As ações de fabricantes listadas despencaram na esteira dos anúncios, refletindo o temor de que a disputa por volume esteja corroendo margens e pressionando toda a cadeia de suprimentos. Analistas já falam em “destruição de valor” se a competição abaixo de custo persistir.Capacidade demais, demanda de menosDepois de anos de expansão acelerada, a indústria convive com sobrecapacidade e desaceleração do consumo doméstico. O mercado ficou superlotado de marcas e lançamentos, enquanto subsídios encolheram e o crédito encareceu. Parte dos fabricantes mais frágeis opera com capital de giro negativo, atrasando pagamentos a fornecedores e alongando prazos de aceitação de mercadorias — um círculo vicioso que fragiliza o ecossistema.Sinais duros de estresse: reestruturações e “contabilidade criativa”Em 2025, um dos nomes mais discutidos do segmento entrou formalmente em recuperação judicial, após meses de caixa apertado, lojas fechadas e queda brusca nas vendas. Outro ex‑queridinho das startups, que já havia solicitado pré‑reorganização em 2023, avançou na reestruturação e anunciou planos para retomar produção sob novo controlador. Paralelamente, vieram à tona práticas de antecipação artificial de vendas por meio de registros e seguros antes da entrega ao cliente — expediente que inflou números comerciais e agora é alvo de investigação e reprimendas setoriais.Resposta oficial: freios no “vale‑tudo”Diante do quadro, reguladores intensificaram ações para coibir propaganda enganosa e difamações no setor, além de abrirem consulta para atualizar a Lei de Preços com restrições explícitas a vendas abaixo de custo para eliminar concorrentes. A associação nacional de montadoras, por sua vez, articulou um código de conduta que padroniza a aceitação de mercadorias em até três dias e o pagamento a fornecedores em, no máximo, 60 dias — tentativa de aliviar a tesouraria da cadeia e reduzir o risco de calotes.A válvula de escape externa ficou mais estreitaA estratégia de “exportar o excedente” esbarrou em barreiras maiores. A União Europeia aplicou medidas compensatórias definitivas sobre importações de elétricos feitos na China, com alíquotas diferenciadas por grupo industrial, além do direito aduaneiro padrão. Nos Estados Unidos, o governo elevou a tarifa sobre veículos elétricos chineses para 100% e estuda impor limitações adicionais a software e conectividade embarcados, o que pode travar ainda mais o acesso ao mercado.Há, afinal, uma “Evergrande” no setor?A analogia de Wei Jianjun mira menos um alvo específico e mais um conjunto de comportamentos: endividamento elevado, crescimento a qualquer preço e dependência de práticas comerciais insustentáveis. O recado foi entendido: sem disciplina financeira e sem uma competição mais ordenada, a combinação de sobrecapacidade, margens exíguas e confiança abalada pode precipitar novas quebras. A expectativa entre líderes do setor e analistas é de consolidação acelerada até meados da década — com poucos grupos capitalizados sobrevivendo à depuração. Em outras palavras, se a “Evergrande automotiva” já existe, o mercado e os reguladores correm para impedir que o estouro contamine todo o ecossistema.